1. |
Último metrô
03:31
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A torcida na rua grita, grita
A tropa pronta para o choque
Tudo isso ao meu redor me irrita
Fogos, fogos, fogo! morte!
Flores para os derrotados, escoltados em fila
Até embaixo do cemitério, eu só quero
Chegar à estação e entrar no vagão
Do último metrô
Último metrô
Último metrô
Sou um cara enrolado, estou sempre atrasado
Quando não tardo, eu falho
Sou um cara enrolado, estou sempre atrasado
Não moro, me escondo, me afasto
Da multidão
Na multidão
Todos se vão
O mesmo destino
Os mesmos destinos
Todos em vão
As portas, as grades que se fecham
Último metrô
As esperanças que se acabam
Último metrô
As escadas que só descem
Último metrô
Os segredos do subsolo
Último metrô
Os trabalhadores sub-assalariados
Último metrô
A engrenagem da cidade
Último metrô
Último metrô
Último metrô
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2. |
Retro
02:23
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Suas armas brancas
Seus gestos sua dança
Nossas velhas angústias
A gente dissimula
Mas se o cansaço nos vencer de novo
Ao menos devemos admitir: “foi um belo jogo”
Ata minhas mãos às suas
E quando nos deitamos juntos
Não pensamos em liberdade
Severo regime nos cabe
Mas quando me coloca contra a parede
Eu ouço os fuzis, eu sinto a rede
Adeus, adeus, não a mim
Vamos nos repetir até um novo fim
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3. |
Asfixia
03:52
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Conversas repetidas e as mesmas mentiras
Não quero voltar pra aquele lugar que deveria chamar de lar
Qualquer buraco é um abrigo, tenho dormido em casa de amigos
O retorno à rotina sempre desanima
Se mesmo em noites ordinárias
Rolávamos às gargalhadas
Hoje, o desgaste nos domina
Se me apraz, corpo e voz pedem mais, mais
Mas também digo não à chateação
De momentos que duram dias, dias que passo sofrendo
Por horas e horas que só o silêncio abafa
Mas é um silêncio cínico
Um silêncio duradouro
Quando a sós um olha pro outro
Temos duas ou três coisas em comum, mas todo mundo tem com todo mundo
Você me acusa de desembaraço ao admitir nosso fracasso
Mas a eternidade é uma falácia e esse amor pede eutanásia
Palavras secas, lábios rachados, se fui ácido não foi por acaso, contente agora com o meu descaso
Descaso delatado por detalhes
Detalhes difíceis de disfarçar
Desapego, desdém, desamor
Não estamos mais em sincronia
Pois a nossa companhia
Asfixia, asfixia
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4. |
Desencanto
02:32
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Se Vênus de Milo não virá me abraçar
E não terei o império de um César
Se até prazeres proibidos são frustrantes
Já não há querer que me levante
Desencanto
As cheias do Nilo jamais chegarão
Ao deserto onde fui camelo e leão
Como criança eu teimo e cismo
Com as verdades do meu niilismo
Desencanto
Eu não temo o amanhã perdido na solidão
Não tenho medo de perder a razão
Jogado num canto sem nenhum amigo
À mercê de um desconhecido
Desencanto
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5. |
Motivos maiores*
02:56
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As pessoas olham, mas simplesmente não veem
Se dizem que estão ouvindo, por que não entendem?
Insônia, dor, no corpo, na cabeça
Cada um com seus problemas atrás de suas mesas
Até a criança que separada do resto
Chora no pátio sentada no concreto
Sabe que o mundo, o mundo não é justo
Nem todos são ganhadores, nem todos têm tudo
E os eternos desconhecidos, lado a lado no ônibus, metrô
Fingem que não se veem, ignoram o outro
As pessoas até conversam, mas nada é dito
Palavras entram e saem de seus ouvidos
Todos trabalham, mas nada é produzido
Esse nada que não nos é devolvido
O sol brilha mas a luz do outro é mais forte
Sobra dinheiro no mundo mas ninguém te socorre
Seus remédios são seus únicos amigos
Quando até o amor em moeda é convertido
Por essas ruas tão sujas nem dá vontade de andar
Ficam todos fechados, amargurados, nos quartos em casa
Mas se todos derem socos, todos, no mesmo muro
Ele certamente cairá, cairá no chão, no chão duro
Vamos derrubar!
Derrubar! Incendiar!
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6. |
Meninos perdidos
03:33
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Antes do amor ser necessidade
Mas já com bastante idade
Pra perturbar, fazer barulho
Desrespeitar toda autoridade
No calor da noite saem dos bueiros
Meninos se perdem, perdem seus medos
Crescendo num mundo feio e sem fadas
Num mundo de fatos, ratos e baratas
Qualquer absurdo só pra se divertir
Eu quero alguma coisa que faça rir
Que faça o tempo voar
Me faça voar com tempo
Ó vento mais forte
Que carrega as nuvens
Sei que você pode
Me leva também
Me leva pra longe
Me leva pra onde
Não tenha barreiras
Trancas, fechaduras
Me deixe transpor
Todas estruturas
Pular entre os prédios
Os muros das casas
Ter prazer na dor
Da pele arranhada
Que derrama o sangue
Sangue jovem e sujo
Esse nosso sangue
Que nunca foi puro
Mas o vento era só uma brisa
E quando a gente aterrissa
É preciso descer de novo
Descer pelos canos do esgoto
E voltar a vagar para sobreviver
Aqui se caça, se caça pra ter
E quando eu quero diversão, e todo dia eu quero
E quando eu quero diversão, e todo dia eu quero
Os meninos perdidos, os meninos perdidos
Eu sei onde achar
Se a vida é um jogo, esse é meu time
E o centro é a sede, pra todos os crimes
Andando nesse cenário, somos todos suspeitos
Eu sei o que faço tá errado e tá feito
E somos todos suspeitos, todos suspeitos
Meninos perdidos não tem jeito
Mas entre tantos tumultos
Nem todos meninos viram adultos
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7. |
Canção contra a inércia
04:31
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No governo acha que tudo gira ao seu redor, o sol, o sol
Estrelas egoístas só querem ser admiradas, mais nada
E o homem pequeno assiste ao jogo dos corpos celestes
Inerte, Inerte
Eu não vejo montanhas campos ou castelos
Mas da avenida mais alta no topo de um prédio
Eu vejo aterrissar o dono de um império
Por que cantar, por que cantar, belas odes?
Se eu não cantar, quem vai cantar as mazelas da metrópole?
Aos que se jogam nos trilhos, aos que morrem nas filas
Aos pequenos problemas do dia-a-dia
Por entre essas ruas anos de histórias
Mas nada disso é meu, sou a escória
Um dia eu sonhei que o mundo não tinha dono
E que a utopia não era só um engano
A cidade estava toda quebrada, cacos caídos no chão
E era preciso que cada um com suas próprias mãos
Recolhessem os pedaços e recomeçassem caco por caco
E eu dizia: ‘Eu não me importo se me corto, eu não me importo’
Na minha bandeira não há cores
Não defendo há tiros os meus valores
Nenhuma religião me faz ajoelhar
Nenhuma pátria me fará lutar
Mas é preciso ser, ser inocente e cruel
Saber amar e amaldiçoar o céu
Pois cada chuva que cai é um castigo
Sob, inunda, transborda o rio
É verão e eu não estou feliz
É verão e eu não queria estar aqui
Espremido entre tanta gente
Suando e se lavando na enchente
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8. |
Hora do lobo
02:28
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Palavras impróprias pra ocasião, palavras impróprias
Palavras impróprias pra ocasião, palavras impróprias
Aos quarenta saberei o que é certo, aos quarenta saberei
Aos quarenta saberei o que é certo, aos quarenta
Mas não me parece que a virtude seja o suficiente para ser feliz
Mas não me parece que a virtude seja o suficiente para ser feliz
Se o fruto maduro é o proibido, verde ou podre ninguém quer provar
E o fruto maduro é o proibido
Paraíso perdido pra quem acredita, paraíso perdido pra quem acredita
Paraíso perdido pra quem acredita na oposição entre inocência e experiência
Flor colhida, flor a murchar, flor colhida
Flor colhida, flor a murchar, flor colhida
Já fui moço agora sou lobo, já fui moço agora sou lobo
Já fui moço, agora, sou lobo
O suor cicatriza a ferida, suor, ferida
O suor cicatriza a ferida, ferida de batalhas
Todas batalhas são por batatas, todas batalhas são por nada
Todas batalhas são por batatas, todos batalham
Eu e meu cérebro discordamos, estamos em desacordo
Eu e meu cérebro discordamos, estamos em desacordo
Quando os pássaros da noite já se retiraram
E os da manhã ainda não acordaram
Não há quem escute ou veja
Que a hora do lobo chega
Só a lua poderia dizê-la
Mas mal sabe a ovelha
Que no alto da madrugada
O lobo ataca
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9. |
Nova guerra
02:54
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Esse mundo é pequeno demais pra nós todos
Esse mundo é pequeno demais pra nós todos
Eu quero uma nova guerra, eu quero uma nova guerra
Milhões de mortos
Milhões de mortos
Milhões de mortos, o horror
Extermínio, estatística do medo
O alistamento diminui o desemprego
O inimigo pode ter sido vencido
Mas existem outras formas de fascismo
Esse mundo é pequeno demais pra nós todos
Esse mundo é pequeno demais pra nós todos
Eu quero uma nova guerra, eu quero uma nova guerra
Milhões de mortos
Milhões de mortos
Milhões de mortos, o horror
Extermínio, estatística do medo
O alistamento diminui o desemprego
Juventude unida pela ideologia
Iludida pelo ódio extremista
O atraso alheio não é permitido
Vamos libertar os primitivos
Tudo pelo bem do povo
Tudo pelos bens de poucos
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10. |
Todas as cores
02:35
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Negros, nordestinos, imigrantes latinos
No subúrbio, das prisões ao salário mínimo
A isso se resume à igualdade
E o direito da propriedade
É o direito dos proprietários
E não dos desafortunados
Homens, mulheres vindos de outra cidade, de outra região
Julgados pelo seu sotaque, maneira, criação
Povos de fora admiram nossa cultura, nossa diversidade
Mas o que se vê nos cargos chefes, na alta sociedade
Não é a mesma cor das classes B, C e D
E quem lucra quando o Brasil volta a crescer?
Se ainda sustentamos colonizadores
Eles são só de uma dentre todas as cores
Todas as cores
Todas as cores
Todas as cores
Todas as cores
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11. |
Eterno embate
03:58
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Meus avós, meus pais
Gerações pra trás
Europa África, Transatlântico
Novos velhos românticos
Explora quem espera, deseja
Um futuro que nunca chega
Promessas
País promessa política
E às vezes eu me pergunto se realmente existe uma saída, uma perspectiva
Dezembro, Janeiro, recomeço
Férias, décimo terceiro
Fundo de garantia
Esperança natalina
Economia selvagem
Ao dragão combate
Te buscar de carruagem
Após o trânsito da tarde
Heróis, trabalhadores, cidadãos
Meus sonhos, meus irmãos
Minha irmã
Realidade vilã
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12. |
Jornada noturna
03:37
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Jornada noturna
Jornada noturna
Coração de ouro roubado, petrificado
Pela alquimia inversa de um amor passado
Do café forte o olhar amargo de quem não tem sorte
Vejo minha mão tremer, vejo o velho em mim
Vejo que não será diferente o fim
Mesmos lugares, mesmo desejos, faces mudam, nem percebo
Pego meu barco, na escuridão me apago e esqueço que vivo, esqueço que vivo
Eu disse que saio, pego meu barco, vivo em desmaio, vivo em desmaio
E esqueço que vivo, esqueço que vivo, esqueço que vivo
E esqueço que vivo, esqueço que vivo, esqueço que vivo
E esqueço que vivo, esqueço que vivo
Jornada noturna
Jornada noturna
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Gattopardo Sao Paulo, Brazil
Alan Crisogano,
Elcio Basilio,
Pedro Keppler,
Rodrigo Feltrini.
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